A (quase) surpreendente noite do Oscar

29.2.16



Pois é, isso aconteceu! E não, eu não estou me referindo àquele joguinho do facebook de parar o Oscar na mão do DiCaprio. Eu nunca consegui vencer aquele troço. Eu estou me referindo à cerimonia do Oscar de ontem. Ele ganhou! ELE FINALMENTE GANHOU!


Ontem, dia 28 de fevereiro, o mais inevitável dos fatos improváveis aconteceu. Leonardo DiCaprio ganhou um Oscar. Mas ele não foi o único a levar uma estatueta para casa, apesar de ser o único que importa. Antes da cerimônia, participei de mais um episódio do TostadaCast, sobre essa grande noite de prêmios e, ontem, a academia distribuiu suas acalamadas estatuetas douradas. Tivemos muita gente feliz e muita gente triste, por isso, vim aqui deixar a minha impressão sobre o que rolou e o que deixou de rolar.


Primeiro temos de falar do Chris Rock e de vários outros dos apresentadores, que fizeram questão de mencionar a polêmica da noite: a ausência, pelo segundo ano seguido, de atores negros entre os nomeados.

Eu contei pelo menos 15 pessoas negras naquela montagem.

Temos que reconhecer que colocaram o cara numa sinuca de bico. Ou ele pegava no pé dos empregadores dele, ou ele defendia a comunidade na qual estava inserido. De qualquer maneira, ele sairia perdendo. A parada é que ele tentou sair dessa desagradando todo mundo. Ao mesmo tempo em que ele chamou a indústria Hollywoodiana de racista, ele menosprezou as lutas sociais dos movimentos contra o racismo. E ele fez piadas com outras minorias também, e sobrou até para o movimento feminista. E só contando o seu monologo de abertura.

Como qualquer um que tente agradar a gregos e troianos, ele acabou não agradando muito a nenhum dos dois, mas, pelo menos, não ficou completamente queimado com ninguém, então acho que poderia ter sido pior.

O problema, no meu ponto de vista, é que a questão não ficou só no monólogo inicial do comediante. Os produtores resolveram fazer toda a transmissão voltada para a polêmica, fazendo discursos importantes e piadas de bom e mal gosto durante toda a noite. E, em certo ponto, ninguém mais acreditava em nada. Porque não importa quantos discursos e montagens você fizer na premiação, nada vai mudar o fato de que os negros foram excluidos das nomeações por dois anos seguidos.

Independente da minha posição em relação ao tema, ele foi muito (mal) explorado na noite de ontem. A melhor definição que pude encontrar foi a de um amigo: "Hollywood parece estar dizendo 'eu não sou racista, tenho até amigos negros'".

Mas, a noite não foi só sobre isso, ainda bem. Tivemos muitas premiações e algumas surpresas.

A primeira das gratas surpresas da noite foi Mad Max. Todos sabiamos que o filme era muito bem feito e que tinha muitos e muitos méritos. Ele tinha até uma boa torcida para levar o grande prêmio da noite (o que teria sido realmente uma grande surpresa). Porém, mesmo sem levar nenhum dos prêmios mais impactantes, o filme levou para casa 6 estatuetas, e foi o maior vencedor da noite. Levou quase todos os prêmios tecnicos que disputou: Edição de filme, Design de figurino, Maquiagem e cabelo, Design de produção, Mixagem de som e Edição de som.

Que dia lindo

Enquanto isso, a melhor fotografia ficou com O Regresso - o único Oscar que o filme merecia, na minha opinião - e Ex Machina levou melhor efeito visual. Finalmente, entre os prêmios técnicos, Os Oito Odiados levou melhor trilha sonora, com o primeiro Oscar de Ennio Morricone. Confesso que não conhecia o compositor, mas ele já fora agraciado com um prêmio honorário pela academia em 2007 e agora recebe seu primeiro Oscar com mais de 85 anos de idade.

Ainda sobre música, confesso que fiquei um pouco decepcionado com o tratamento dado ao prêmio de melhor música original. Isso porque apenas três das cinco indicadas tiveram a chance de se apresentar no palco principal. E, é claro, porque eu preferia a musica tocante e cheia de significado da Lady Gaga à musica mediocre do filme mediocre do 007. Mas eu não tenho nada contra o Sam Smith, e eu fiquei feliz por ele.

O que vale ser notado também nesse quesito foi a participação surpreendente de Joe Biden, o Vice-Presidente dos EUA, que apresentou a Lady Gaga logo depois de apoiar a campanha a favor da conscientização do problema de estupro. Apesar de não ter falado diretamente sobre o caso, todos sabem que Lady Gaga é uma das maiores apoiadoras da Kesha na mais recente polêmica de abuso sexual, e a mensagem e a música cairam como uma luva no que se refere a essa polêmica, muito ao contrário da falta de tato com a polêmica principal da noite.

Além disso, Bear Story levou melhor curta de animação, Stutterer levou melhor curta, A girl in the river levou melhor documentário curto (e o Louis C.K. levou a melhor apresentação de prêmio da noite também), Amy levou melhor documentário e Son of Saul levou o melhor filme estrangeiro para a Hungria. 

Agora, posso falar dos prêmios que realmente me interessam. E o primeiro deles era melhor animação. Eu sei, O menino e o mundo era o único concorrente brasileiro da noite, e eu deveria ter visto o filme. Mas não vi. E me desculpem todos, mas dificilmente qualquer das animações merecia mais do que Divertida Mente. O filme foi, sem dúvida, um dos melhores filmes que vi no ano, e merecia estar indicado entre os melhores filmes. Ele levou o prêmio mais garantido da noite, e ninguém pode discutir.



Depois disso, temos os indicados a atriz e ator coadjuvante. Não vi Danish Girl, mas me pareceu que Alicia Vikander era a favorita com sobras, e de maneira muito justa. Novamente, não vi o trabalho dela, mes estou intrigado, e acredito que o Oscar tenha ficado nas mãos de quem mais o merecia. Já quanto ao melhor ator coadjuvante... Mark Rylance, na minha opinião, nem precisava ser nomeado. Eu vi o filme e ele está bem, mas o papel dele é pequeno, ele tem poucas falas, e não me parece ter sido tão desafiador. Ele deveria ter dado lugar a Idris Elba, na nomeação e na premiação. Não sendo ele, poderia ser o Stallone (pela carreira) ou Tom Hardy, o único que realmente fez um papel difícil e teve uma atuação de tirar o chapéu.

Entrando no Big 5, que na verdade são seis, vamos aos prêmios de roteiristas. Sem sombra de dúvidas, A grande aposta mereceu o prêmio de melhor roteiro adaptado, sendo provavelmente o melhor roteiro entre todos os indicados. Nada mais merecido. Em termos de roteiro original, a academia ficou com Spotlight, que definitivamente é um grande filme. Porém, em termos de roteiro, talvez Divertida Mente ou Straigh Outta Compton merecessem mais. Contudo, nenhum dos roteiros inovou muito e, dentre todos, Spotlight com certeza era o melhor filme, logo, o prêmio de melhor roteiro original ficou em boas mãos.

Sobre direçao, confesso que acreditava que, com a lavada de Mad Max, George Miller ia acabar levando o prêmio para casa, mas o tio Oscar ficou, pela segunda vez consecutiva, com Iñárritu. É uma pena, pois eu preferia Adam Mckay (A grande aposta), Lenny Abrahanson (O quarto de Jack) ou o George Miller (Mad Max), mas O Regresso é um filme muito bonito, sem sombra de dúvida, e foi extremamente bem feito. Ele foi feito para o Oscar, e não foi de todo injusto ter levado esse prêmio. Talvez até tenha sido mais merecido que Birdman no ano anterior.



Finalmente, tivemos os prêmios de melhores atores e de melhor filme

  • Brie Larson estava fenomenal em O quarto de Jack e levou para casa um prêmio muitíssimo cobiçado e merecido. É uma pena que ela tenha sido a unica vencedora de um filme tão marcante, potente e bonito, mas é uma vencedora muito merecida ainda assim. Fica aqui um lamento pela ausencia de Jacob Tremblay entre os melhores atores, porque o garoto também deu um show, e seria inclusive um forte candidato a tirar o Oscar mais esperado de todos os tempos.

  • Leonardo Dicaprio. SIM, ELE VENCEU! Foi a melhor performance da sua carreira? Talvez. Ele mereceu o Oscar? Com certeza. O mundo pirou? Sim, bastante. Foi para isso que você ficou até as 3 da manhã assistindo o Oscar? Principalmente. Leo destruiu a internet, agarrou a estatueta para nunca mais largar, deu seu discurso bonito e já esperado, relembrando o mundo dos problemas ambientais e nos chamando a todos de preguiçosos procrastinadores, enquanto dava o dedo do meio para a academia de uma maneira discreta e que (quase) passou desaperecebida. E aí está. Morre mais uma piada.

  • Spotlight foi, sem sombra de dúvida, a maior surpresa da noite quando venceu Melhor Filme. E eu não podia estar mais feliz. Quer saber o porquê? Basta ver o meu último post sobre o Oscar. Para mim, esse foi o filme mais poderoso e importante do ano, com ótimas atuações, uma abordagem perfeita de um tema extremamente importante e delicado, e o filme que comprova o poder e a importância do jornalismo e do cinema, que pode ir ainda muito além do simples e mero entretenimento. Em um ano com algumas bolas foras, a academia acertou em cheio com a sua mais importante premiação, e eu não poderia ter comemorado mais. 
É isso. Essa foi a noite do Oscar. E, para podermos aproveitar o que temos agora, fica aqui alguns dos memes do Leo ganhando o Oscar, porque a zoeira não pode ter fim. Até a próxima!







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