O Brasil e suas babás

14.3.16



E então, vamos discutir a babá? Vamos lá...

Um breve resumo da discussão:

O pessoal da esquerda, como sempre, diz que é um absurdo a família levar a babá negra para o protesto, e que isso deixa claro como esse é um movimento da elite branca opressora contra o negro.

O pessoal da direita diz que leva a babá sim, seja ela branca ou negra. Vai uniformizada, com carteira assinada, ganhando hora extra, como trabalhadora digna e respeitada que é. É direito da empregada e da empregadora, e ninguém tem nada a ver com isso.

A esquerda diz que o problema é a metáfora, é a foto, é a ideia de opressão que passa. Que nesse país, com o nosso histórico, isso é um retrato da classe dominante dominando a opressora oprimida. Que tem de cuidar do filho do rico, mesmo que seja domingo e o rico só esteja indo para a praia caminhar uns 10 quarteirões.

A direita, por sua vez, diz que a maldade está nos olhos de quem vê, e a babá tirou muito bom proveito do domingo de trabalho (que ia ser chato em casa, mas foi na praia dessa vez).

E aí vem um, como eu, para dizer que o discurso está muito polarizando e inútil, e a direita e a esquerda apontam dedo juntas, xingam juntas. Dizem que "em tempos de crise, existe um lugar especial no inferno para quem não toma um lado". Coitados... estão todos no caminho do inferno e ninguém percebeu até agora.

"Pedra, lugar duro, eu"

Esquerda: Não, não teve opressão. Depois que a família, a babá e todo mundo lembrou que a moça estava trabalhando, você mesmo reconheceu isso, correndo atrás da idéia da metáfora. E, na boa, foda-se a metáfora. Vamos a uma rápida aula de português? A metáfora é uma figura de linguagem voltada para o leitor, armada pelo autor. Por exemplo: Eu estou dando murro em ponta de faca. Aqui, ninguém realmente quis dizer que estava dando um soco na ponta de uma faca, por mais que as palavras sejam essas.

Pois bem. O autor da foto não é a família ou a babá, é o fotografo. E o leitor é você. A família e a babá são as palavras, no caso do exemplo, o murro e a ponta de faca. Que só foram colocadas ali pelo autor, por saber que isso ia fazer você pensar besteira. A metáfora foi feita, justamente, para despertar a maldade nos olhos de quem vê. Para de tentar culpar as palavras, e leia com mais atenção...



Direita: Não. Não é maneiro levar a babá para o protesto. Você até pode, mas não deve. Eu sei que ela está trabalhando e recebendo por isso. O problema é justamente esse! Não, não é a opressão. O pessoal da esquerda está errado também, fique tranquilo. Mas presta atenção aqui, que é importante. Não é a ideia de opressão, mas o fato de a babá não estar ali porque quer apoiar a causa. Lembra o PT pagando para as pessoas irem ao comício? Vocês iam a loucura, não iam? Então, o problema é o mesmo!

Um protesto é um palco público de manifestação política. Você não pode coagir ou oferecer vantagem para alguém estar lá! Mesmo que ela fosse de qualquer maneira, o simples fato de você pagar prejudica a manifestação de vontade dela. Já pensou se metade daquele um milhão de pessoas resolve levar babá, mesmo pagando? A passeata ia ficar com um milhão e meio, só que um terço estaria ali porque estaria trabalhando e recebendo para tal. O movimento toma uma proporção muito maior do que de fato teve... Fica feio, fica falso, fica corrompido... Não rola...

E você, babá, quando for ao protesto, vai sem uniforme, sem hora extra, com a sua própria família. Eu sei que os tempos são duros e qualquer dinheirinho extra é bem-vindo, mas não se pode aceitar dinheiro por apoio político, em hipótese nenhuma. Afinal, é justamente contra isso que foram marchar.

No fim, só me resta botar a mão na cabeça e procurar um pouco de serenidade nesses tempos de caos. Está cada vez mais difícil. Todo mundo luta contra a corrupção dos outros, mas ninguém conseguem encarar a corrupção em si mesmo...


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2 comentários

  1. O autor é a pessoa que vasculhou as fotos da manifestação, provavelmente alguém formado em jornalismo, alguém mal pago e que bebe café. Seu objetivo era encontrar algo que simbolizasse a elite.

    Sinto muito, mestre, mas ele conseguiu.

    Uma foto. Que bosta, hein, estatisticamente falando, essa mesma cena deve ter acontecido em todas as grandes manifestações. Ou não, como vou ter certeza de qualquer coisa quando percebo que existem jornalistas espertos como esse?

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    Respostas
    1. Ele não foi esperto... A metafora é ruim e foi desconstruída pelas próprias palavras (família e babá, que já se pronunciaram publicamente). Nós é que ainda somos leitores muito limitados. As pessoas já estavam falando que era um movimento de elite antes dele acontecer. É o que fazem toda vez que o povo se organiza contra um governo de esquerda. O jornalista só postou uma foto que as pessoas estavam procurando ver, seja o que vemos verdade ou não.

      Mas sim, a cena deve ter se repetido algumas vezes pelo país. O que é ruim, horrivel, como eu conclui dizendo. Mas por outro motivo, completamente alheio à "opressão".

      Valeu pela passada e pelo comentário, cara!
      Abraços!

      Excluir


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